Coringa reflete os efeitos da sociedade que marginaliza a saúde mental
By Isabella Jarrusso - segunda-feira, fevereiro 03, 2020
Com atuação emblemática de Joaquin Phoenix, o filme cria narrativa singular e com diversas referências do cinema de Martin Scorsese
Por Isabella Jarrusso
Coringa é um personagem complexo, que já foi retratado de várias formas nos quadrinhos e no cinema. O novo filme do diretor Todd Philips, estrelado por Joaquin Phoenix, constroem uma versão surpreendente sobre a trajetória do famoso vilão e abre a reflexão sobre a sociedade e a loucura, retratando o efeito da convulsão humana e temas sociopolíticos.
Coringa (2019) conquistou o maior número de indicações ao Oscar 2020, destacando Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator, onde Joaquin Phoenix é o favorito e já vem ganhando a categoria nas principais premiações do cinema.
O filme se passa na fictícia Gotham City, entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80 e conta a história de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), que trabalha como palhaço e durante a noite tenta ser um comediante de stand-up. Além disso, também retratada como Arthur lida com a sua saúde mental e sua tentativa de se integrar à sociedade de Gotham, que tem altos índices de criminalidade e corrupção, onde o personagem é uma vítima que sofre essas agressões.
A abordagem sobre a saúde mental é um ponto importante para a trajetória de Arthur se transformar no Coringa. O filme mostra a marginalização das pessoas que tem problemas psicológicos, como por exemplo, os cortes dos programas do governo ou a forma como a sociedade lida com essas pessoas e acaba criando os seus próprios vilões. Além disso, as desigualdades socioeconômicas é o que impulsiona a revolta geral.
Joaquin Phoenix entrega uma atuação icônica, ele cria uma personalidade sombria e dramática, que transparece em sua fala, olhar e corpo. O ator que emagreceu 23kg, constrói uma imagem desconfortável e que transmite a insanidade de seu Coringa. A risada, uma característica conhecida do personagem, foi retratada no filme como um problema psicológico que o faz rir em momentos inapropriados, principalmente quando fica ansioso. O mais impressionante é que Phoenix criar uma técnica ao construir mais de um tipo de risada, que durante o filme percebe-se quando se trata de seu distúrbio, ou quando quer se encaixar entre as pessoas ou quando sente prazer.
Os filmes de Martin Scorsese como Taxi Driver (1976) e Rei da Comédia (1982), são as grandes referências que o diretor Todd Philips escolhe para construir a história de origem do vilão. No filme Taxi Driver, o personagem Travis Bickle (Robert De Niro), um motorista de táxi de Nova York reflete sobre a criminalidade e corrupção que destroem a cidade, além de se sentir perturbado com a própria solidão. A atmosfera de personalidade entre Travis e Arthur são semelhantes.
No filme Rei da Comédia, o personagem Rupert Pupkin (De Niro) também é um aspirante a comediante como Arthur. Ambos carregam atitudes e desejos totalmente iguais, como serem obcecados por um apresentador de TV e cometem crimes para conquistar sua fama: Rupert sequestra o apresentador Jerry Langford (Jerry Lewis), e Arthur assassina o também apresentador Murray Franklin (De Niro) ao vivo. Além disso, a montagem de algumas cenas se assemelha entre os dois filmes, como por exemplo, a cena que Arthur imagina sua apresentação no talk show com os aplausos da plateia e os elogios de seu ídolo.
Também vale destacar o trabalho com a trilha sonora realizada pela a violoncelista islandesa, Hildur Gudnadottir. A música foi feita antes do filme, ela compôs após ler o roteiro, uma tática do diretor Todd Phillips que usou a trilha nas gravações e que foi essencial para criar a atmosfera do filme. Em entrevista para a Esquire, Hildur disse: “Compus o que eu estava sentindo, imaginando o som e o ritmo da narrativa (...) Isso foi incrível porque a música e o filme crescem juntos”.
Coringa já fez história para o cinema, carregando tudo que uma obra cinematográfica necessita, como uma ótima direção, grandes atuações e um trabalho minucioso para a criação da trilha sonora, a linda fotografia e claro, a icônica maquiagem e figurino. Um filme que critica a falta de política, diferenças sociais e a falta de empatia que resultam no limite da loucura humana.
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