O Farol é um terror sufocante sobre a convivência humana
By Isabella Jarrusso - domingo, janeiro 05, 2020
Novo filme de Robert Eggers reafirma seu estilo de terror psicológico trazendo referências do expressionismo alemão
Por Isabella Jarrusso
O Farol (2019), que acaba de estrear nos cinemas brasileiros, é dirigido pelo norte-americano Robert Eggers e estrelado por Willem Dafoe e Robert Pattinson. O filme tem narrativa perturbadora que entrelaça a fantasia com realidade, entregando um terror psicológico complexo, estilo que Eggers já vem construindo desde seu primeiro longa-metragem, “A Bruxa” (2015).
O filme se passa no começo do século XX e narra a história dos personagens Thomas Wake (Willem Dafoe), responsável pelo farol de uma ilha isolada, que contrata Ephraim Winslow (Robert Pattinson) como ajudante nas tarefas diárias. No entanto, o acesso ao farol é mantido fechado ao Winslow, que se torna cada vez mais obcecado para descobrir o que acontece com este espaço privado. O convívio entre os dois homens se torna cada vez mais difícil, ainda mais pela a diferença de hierarquia e a rotina tediosa de trabalho, afetando a mente e o comportamento de ambos os personagens.
Fugido da narrativa de jump scares, o longa constrói o horror através da dinâmica de convívio entre os dois personagens, que vai ficando cada vez mais intensa durante os 90 minutos de filme. Além disso, lendas folclóricas e superstições, como a existência de sereias na região e a maldição ao matar uma gaivota, ajudam na insanidade dos personagens, e confundindo o que é fantasia e a realidade.
A química incrível entre Dafoe e Pattinson é fundamental, pois os dois atores dividem o maior tempo de tela durante o filme, criando a atmosfera sufocante do isolamento. A interação entre eles é o ponto alto para segurar o espectador. O relacionamento instável e intenso é o momento dos melhores e maiores diálogos, que são desenvolvidas em conversas afetuosas nas primeiras noites, depois se transformam em uma luta de ego com discussões, e até no final atingir o ponto da insanidade com as agressões e morte.
O filme foi gravado com lente de 35mm, negativo, e em entrevista para o jornal Destak, o diretor disse que: “às vezes, usamos lentes de 1930 ou até mesmo de 1905. Tudo isso para criar essa atmosfera, dar aspecto de algo velho”. O que visualmente deu muito certo, pois transmite a sensação de assistir um filme antigo, aspectos que lembram o expressionismo alemão, por construir a fotografia que faz contraste com a escuridão e uma narrativa de mistério e horror com poucos personagens.
O Farol é um filme complexo. Carregado de significados e referências artísticas, como uma cena que faz alusão direta ao quadro “Hypnose”(1904), do pintor alemão Sascha Schneider. Um filme de terror que sai da fórmula padrão, criando uma experiência diferente e única para o espectador. Uma produção que se junta a essa onda de filmes do gênero que vem construindo uma nova cara para o horror contemporâneo.
Nota:
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Ótimo!
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