Futebol e religião não se discutem? No filme “Dois Papas” se discute até mais
By Isabella Jarrusso - domingo, janeiro 19, 2020
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Novo filme de Fernando Meirelles reúne interpretações emblemáticas de Anthony Hopkins e Jonathan Pryce
Por Isabella Jarrusso
O diretor brasileiro Fernando Meirelles volta aos holofotes em grande estilo com o filme "Dois Papas" (2019), que traz um elenco de peso, concorre a três estatuetas do Oscar 2020 (melhor roteiro adaptado, melhor ator e melhor ator coadjuvante), além de ser distribuído pela Netflix, que vem crescendo a cada ano com produções aclamadas.
A trama aborda a história da Igreja Católica a partir da morte do João Paulo II e a escolha de Bento XVI (Anthony Hopkins) como o novo papa, eleito pelos cardeais que desejavam resgatar os valores mais conservadores. Mas em meio aos escândalos sobre a Igreja acobertar casos de pedofilia, o próprio decide renunciar, mas antes de tornar sua decisão pública, precisa encontrar um substituto.
Do outro lado, o cardeal argentino Jorge Bergoglio (Jonathan Pryce) está decidido a pedir sua aposentadoria, devido a divergências sobre a forma como o papa tem conduzido a Igreja. Mas ele é surpreendido com o convite do próprio Bento XVI para visitá-lo no Vaticano, e daí se inicia longas conversas entre os dois, o que levaram a eleição do cardeal que se tornaria o mais novo papa.
Os diálogos abordam diversos assuntos que vão de religião à futebol, mostram como os dois personagens tem visões diferentes. Bento XVI, com ideais conservadores e Francisco, com ideais mais progressista, não concordam com quase nada, mas se respeitam. Essa dinâmica cria os principais momentos do filme, além de também serem responsáveis por cenas cômicas.
Hopkins e Pryce entregam atuações memoráveis, além de se parecerem fisicamente com os Papas, também demonstram grande química em cena, os atores em conjunto com a direção de Meirelles, conseguem demonstrar as facetas mais humanizadas dessas figuras tão santificadas pelo público.
Meirelles também escolhe mostrar no filme o passado de Jorge Bergoglio, destacando sua relação com a ditadura militar argentina. No filme é abordado a proximidade entre o regime do general Jorge Rafael Videla e Bergoglio como chefe dos jesuítas, no qual ele justifica sua aliança com os militares como uma forma de proteger seus padres, onde muitos foram presos e torturados durante a ditadura. As ações de Bergoglio à época continuam sendo um dos momentos mais controversos sobre o seu passado.
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Outros assuntos como o acobertamento dos casos de pedofilia não ganharam muito espaço, um dos pontos negativos do filme, que poderia ter explorado mais sobre esse grande escândalo público da Igreja Católica.
Vale destacar, o lindo trabalho da direção de fotografia e efeitos, muitas das cenas grandiosas do Vaticano foram todas gravadas em chroma-key (técnica de efeito visual que sobrepõe imagens), e que foi fundamental para o resultado final do filme, já que as locações para gravação na Capela Cistina, por exemplo, foram negadas.
“Dois Papas” consegue equilibrar diálogos que abordam diversos assuntos sociais, políticos e culturais, desmitificando que os personagens se limitem apenas sobre religião. A dinâmica de seriedade e alivio cômico, constrói uma narrativa humanizada que agrada diferentes tipos de espectadores.
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