A ultraviolência de Laranja Mecânica

By Isabella Jarrusso - sexta-feira, julho 04, 2014


Como uma admiradora de Stanley Kubrick, venho escrever sobre um dos filmes que mais mudou minha visão e me fez de certo modo, amar mais ainda o mundo cinematográfico, esse filme é aquele que foi baseado no livro de Anthony Burguess de 1962, Laranja Mecânica (1971)

 O que se deve entender sobre essa obra é que além de nos fazer pensar e abordar sobre alguns assuntos sociais, é o vocabulário único que Burguess criou, a linguagem nadsat e que causam até hoje uma diferença e estranheza ao ler, ou assistindo ao filme, já que Kubrick não se atreveu a mexer nesse “dialeto”. Além do  filme ser acompanhado, por um tilha sonora sensacional feita por Wendy Carlos.

É a história de um jovem chamado Alex Delarge (Malcolm McDowell), que é o líder de uma gangue de sociopatas. Juntos eles cometem violência, estupros e roubos em uma Londres bem futurista. O filme em sua primeira parte mostra Alex e seus “drugues”, em um bar de nome “Lactorbar Korova”, onde eles bebiam um leite especial ou como Alex diz “Moloko”, isso faz parte de certo modo de um ritual, para a noite de muita ultraviolência. Até que tudo muda, quando Alex é traído por seus não tão fiéis druguinhos e é preso por assassinato de uma mulher. Alex é levado para uma clinica que promete reeduca-lo e fazer com que o jovem delinquente possa virar um exemplar cidadão. 

É nessa parte da história que começamos a pensar e perceber toda uma crítica sobre a sociedade moderna e do Behaviorismo. 

A técnica behaviorista usada é bem perturbadora, onde é injetadas drogas em Alex e depois levado para assistir filmes, mostrando toda violência que existe na sociedade. Dá uma certa aflição, onde o personagem nem piscar conseguia, por causa de um tipo de aparelho que o impedia de fechar os olhos, com o tempo Alex começa a sentir repulsa de toda violência mostrada nos filmes, que acompanhava como trilha sonora, a 9ª sinfonia de Beethoven, no qual era o artista que Alex mais gostava. 

A técnica Ludovico é o nome do tratamento que o personagem sofreu, é definido com princípios psicológicos behavioristas, que introduz em Alex um mal-estar físico ligado a qualquer comportamento violento, ou seja, ele passaria mal se tentasse bater em alguém ou tocar sexualmente em alguma mulher. Se ele ouvisse a antes tão amada 9ª sinfonia, poderia chegar a tal nível de repulsa e desespero, que se suicidaria.



No fim, Alex é visto como uma vitima de um tratamento desumano, mas o que só nós telespectadores descobrimos junto com a narrativa de Alex, é que depois de não estar mais sujeito ao tratamento, ele volta a seu estado de antes e como pela ultima vez ouvimos de nosso narrador Alex Delarge, dizer com um som irônico em sua voz:“Eu estava curado mesmo”.

Laranja mecânica nos faz pensar se essa constante procura de “curar” alguém que é denominado mau, seja mesmo possível. O que faz Alex Delarge que nasceu em uma família "correta" da sociedade se transformar em alguém sedutor e maléfico ao mesmo tempo? 

Agora só de imaginar que na época que o gênio Anthony Burguess aborda esses assuntos e Stanley Kubrick completa sobre isso com uma obra cinematográfica genuína, que ainda causa uma polêmica e censura como aconteceu na época, mas de uma maneira bem mais extrema dessa obra que trata os assuntos como uma sátira dessas mentes maléficas.

Sinto uma sortuda por ter tido a chance de ir ao cine-cínico (cinema na língua nadsat) em 2014 e videar (assistir) toda uma obra fantástica e tão brilhante de Kubrick, que conseguiu transformar em uma das melhores adaptações para o cinema. Foi realmente uma experiência de horrorshow (ou seja, excelente).  



Por Isabella Jarrusso - 04/07/2014 

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